A galáxia M 107 é uma das maiores do aglomerado de Virgem,
um complexo de 2.000 galáxias a meros 28 milhões de
anos-luz da Terra. Mas o que chama a atenção em M 107 não
é seu tamanho, mas sua forma. A M 107 é conhecida como a
galáxia do Sombreiro, por causa da sua morfologia bem peculiar.
Por causa do ângulo em que a enxergamos, vemos a M 107 quase
de perfil. Por isso, o que mais se destaca nela é uma faixa
de poeira lateral que bloqueia a maior parte da luz das estrelas.
Graças a ela, a luz que enxergamos é a que escapa “por cima”
desta faixa, dando um aspecto que lembra um sombreiro mexicano. Os três amigos do título são os três telescópios em órbita da Terra: o Chandra (que observa em raios X), o Hubble
(em luz visível) e o Spitzer (em infravermelho). Eles juntaram suas capacidades e produziram esta foto. Na verdade,
o Chandra estava atrasado, os outros dois “amigos” já tinham
feito imagens do Sombreiro. Esta imagem é a composição das
que foram feitas por cada um dos observatórios: em azul os
raios X, em verde o óptico e em vermelho o infravermelho.
Cada tipo de radiação surge de um processo diferente e
juntando os três numa única imagem, podemos vê-los em ação
simultaneamente. Os raios X mostram um halo de gás quente,
muito provavelmente produzido por ventos de explosões de
supernovas. A imagem no óptico é um registro principalmente
da luz das estrelas. Finalmente o infravermelho mostra a
emissão da poeira interestelar, presente entre outros
lugares, nas regiões de nascimento de estrelas.
Outra característica notável nesta imagem são as bolhas
azuladas, fontes intensas de raios X. Algumas destas
fontes são objetos de M 107, mas a maioria é de galáxias
que estão bem mais atrás do Sombreiro.
*** Los tres amigos y un sombrero ***
*** Postado por Cássio Barbosa ***
*** Veja a Matéria Completa em: ***
*** http://colunas.g1.com.br/observatoriog1/2007/04/
Vale a pena colocar um telescópio na Lua?
Algum tempo atrás, os Estados Unidos decidiram retomar seus vôos à Lua. Com eles, você deve ter percebido que outras nações, como a China e a Índia, decidiram também, de uma maneira ou de outra, que deveriam mandar sondas robóticas ou até mesmo astronautas. Os motivos para isso? Se você ainda não sabe, leia aqui. Bases lunares estão sendo planejadas, projetadas e até testadas, mas será a Lua um bom lugar para se instalar um observatório? Numa primeira análise a Lua seria um local perfeito, pois não possui atmosfera e tem baixa gravidade. Com isso não haveria de se preocupar com o clima, com as distorções introduzidas pela turbulência, nem com a absorção de determinados comprimentos de onda. Por exemplo, infravermelho, raios X, rádio e ultravioleta não seriam barrados. Essas radiações são absorvidas em um grau maior ou menor pela nossa atmosfera e o acesso completo a elas só pode ser feito do espaço. Um observatório na Lua tem seus prós e contras, claro, e no ano passado foi realizado um encontro no EUA só para se avaliar se há vantagens suficientes que justifiquem o investimento nessa reconquista da Lua. Infelizmente eu não participei dessa reunião, mas as principais conclusões foram resumidas por Dan Lester da Universidade do Texas. Aqui vão elas. Prós: - A Lua não tem atmosfera. Como eu disse ali em cima, isso abre a janela de observação para todos os comprimentos de onda. Também não é preciso se preocupar com a aberração causada nas imagens por causa da turbulência atmosférica. Hoje em dia é possível compensar esse efeito com o uso de óptica adaptativa, mas isso exige um bom investimento. - A gravidade da Lua é um sexto da terrestre. Isso permitiria operar telescópios bem maiores do que os que são operados na Terra.
A mecânica e a sustentação do espelho, por exemplo, não precisariam suportar pesos tão grandes. A gravidade menor também provocaria distorções menores nos espelhos. Isso porque um telescópio, ao acompanhar uma estrela, por exemplo, se deforma por causa do próprio peso. Esse efeito também é possível de se corrigir mediante uma técnica chamada óptica ativa.
- A Lua provê um baixo ruído de fundo. Isso é particularmente importante para os comprimentos de onda de rádio. Aqui na Terra, cada vez mais a radioastronomia sofre com a invasão das novas tecnologias de telefonia. Novos celulares que usam novas bandas de rádio para funcionar já fecharam algumas janelas. O caso mais triste foi a telefonia global dos satélites Iridium, que invadiu uma banda de rádio usada para estudar a água no Espaço. Antes deste fato lamentável, as empresas consultavam os radioastrônomos para desenvolver novas técnicas, agora ocorre o contrário. Radiotelescópios na Terra são construídos em locais remotos, longe do tráfego de rádio, ou no fundo de vales de modo que as elevações a sua volta barrem a radiação. - Na Lua seria possível observar de dia Sim, sem atmosfera, não há luz espalhada. Desde que não se olhe muito próximo do Sol (ou da Terra!) o céu todo é escuro na Lua. - A Lua é praticamente inativa em termos geológicos. Não há movimentação de placas tectônicas, o que elimina a possibilidade de abalos sísmicos. Os poucos abalos registrados pelos sismógrafos deixados pelas missões Apollo são originários de impacto de meteoros e não propriamente de atividade geológica interna. Se vocês acham que este é um detalhe desprezível, vale lembrar que no Havaí um terremoto de seis graus Richter no ano passado quase destruiu os maiores e melhores telescópios do mundo!
Contras:
- A Lua não tem atmosfera. Sim o que pode ser uma grande vantagem, também pode ser uma imensa desvantagem. A falta de uma atmosfera espessa faz com que não haja nenhuma proteção natural contra meteoros. Mesmo partículas de poeira que viajam a velocidades imensas conseguem chegar à superfície da Lua. Imagine um meteorito atingindo um espelho a velocidades de 20.000 km/h ou mais. Proteger o telescópio em uma redoma não faz sentido, já que a grande vantagem da Lua é não ter nenhum tipo de material para absorver a radiação. Colocando uma redoma de vidro, por exemplo, já barraria a radiação ultravioleta. - A gravidade da Lua é um sexto da terrestre. Sim, de novo. O problema agora é que apesar de mais fraca, existe gravidade. Isso possibilitaria espelhos maiores, mas ainda assim eles se deformariam. E os mecanismos de controle e sustentação dos telescópios devem ser mantidos em temperaturas estáveis, sem grandes variações. Na Lua a temperatura varia da ordem de uma centena de graus se um corpo sai ou entra na sombra de uma rocha, por exemplo. - A Lua é um corpo pequeno e já geologicamente inativo, de modo que não existe lava em seu interior. Isso a torna um corpo rígido — demais. Por causa disso qualquer impacto na Lua se propaga muito facilmente. Instrumentos de altíssima precisão como telescópios e interferômetros precisam estar em locais livres de trepidações. Mesmo na Terra eles são instalados em locais remotos e dentro de verdadeiras “bacias” que isolam a montagem de qualquer trepidação externa. Na Lua, além dos impactos dos meteoros, temos de considerar outros detalhes. Estamos retomando a Lua, não com o objetivo de passear. Certamente haverá atividades de mineração, que implicará em muita atividade geológica, com trabalho de máquinas pesadas e explosões. Isso acabaria com qualquer óptica de precisão dos instrumentos. Há de se pensar que os observatórios devem ficar próximos das bases lunares, para que sejam de fácil acesso. As bases também devem ficar perto das minas e perto dos locais de pouso dos foguetes. Tudo isso seria um desastre para qualquer instrumento que necessite de óptica fina. Sem falar nos laboratórios de altíssima precisão necessários para a montagem e manutenção. - Dificuldades de transporte. Imagine agora, montar um instrumento de altíssima precisão, peça por peça (que às vezes são gigantescas) que devem ser transportadas em foguetes. Durante o lançamento, todo o maquinário sofreria com a grande aceleração. Este não seria o grande problema do transporte em si, já que instrumentos são lançados por foguetes a todo instante e eles sobrevivem. Mas e na hora do pouso? Não dá para esperar um pouso tão suave assim. Ao menos por enquanto, não há como esperar pousos que não sejam quedas verticais quase livres. Imagine o baque de um pouso destes em um espelho! - Agora o pior: a poeira lunar. A superfície da Lua é recoberta por uma camada de poeira fina como o talco. Ela é pegajosa e grudenta — um verdadeiro inferno. Nas palavras de Gene Cernan da Apollo 17: “… uma das mais agravantes e restritivas facetas da exploração da superfície lunar é a poeira e sua aderência a tudo, não importando o tipo de material, tanto a pele, traje espacial, metal, não importa o que seja e sua ação é a de emperrar o movimento de qualquer coisa em que ela grude.” Pete Conrad da Apollo 12 relatou que na volta de uma caminhada lunar ao retirar o capacete a poeira entrou em seus olhos a ponto de não enxergar nada. Imediatamente recomendou que seu parceiro mantivesse o capacete dele e ele mesmo voltou a colocá-lo. Resolveram, então usar um aspirador um no outro, mas com resultados pífios. Segundo Conrad valeu apenas o exercício. Para piorar as coisas a poeira pode se carregar eletricamente. Isto a faz aderir às superfícies com mais facilidade ainda. Você deve ter lido aqui que em breve a Terra deve colaborar para carregar a poeira. Além disto, por ser tão fina e leve, ela viaja por distâncias imensas até encontrar um anteparo. Imagine agora esta praga em cima de um espelho de 10 metros, por exemplo. Até mesmo para a exploração simples da superfície da Lua a poeira vai representar problemas. Algum mecanismo de limpeza vai ter de ser desenvolvido até lá. Por essas e outras, astronomia na Lua não vale a pena. A não ser em casos muito especiais, para a observação de um fenômeno específico em que seja possível levar o instrumento já montado e blindado da poeira. Mesmo assim ele deve operar por muito pouco tempo, pois logo, logo a poeira se infiltra nas engrenagens do aparelho e ele pára de funcionar. Mandar telescópios em órbita da Terra, como o Hubble, Chandra e Spitzer, por exemplo, vai continuar a valer a pena. Apesar deles serem muito mais caros do que observatórios em Terra, são muito mais baratos do que observatórios na Lua. No espaço, não sofrem problemas com a gravidade, não têm atmosfera e conseguem se manter em temperaturas relativamente estáveis. Com a exceção do Hubble, o maior problema dos observatórios em órbita é a impossibilidade de manutenção. Então a idéia é caprichar para que tudo funcione direitinho.